Fez parte da geração que na serra da Freita trabalhou na floresta, então dominada pelo Estado, a semear e a plantar as árvores que o fogo destruiu há bem pouco tempo. Ganhava 20.00 escudos por dia. Pertenceu à leva de imigrantes que, nos tempos difíceis da década de cinquenta do século passado, procurou em França o que cá não encontrava: trabalho e justa retribuição. Lá trabalhou na agricultura e nas obras públicas: na abertura de estradas e noutros serviços.
Regressado a Portugal, assumiu o património familiar, dedicando-se à pecuária e ao amanho das terras numa agricultura de subsistência. Já quando as forças escasseavam e as pernas lhe obedeciam penosamente, nunca o vimos parado, entregue a lamúrias ou queixumes, antes executando, teimosamente, as suas tarefas habituais.
Viveu sempre na terra que era a sua. Mas não vivia limitado pelos seus horizontes. Gostava de almoçar fora. Cultivava relações, tinha amigos.
E tinha uma sensibilidade mobilizadora para as questões do bem comum. Foi membro da Junta de Freguesia, presidente do Conselho de Compartes dos Baldios, empenhou-se nas iniciativas dos vizinhos, de que resultou, nomeadamente, um sistema comum de abastecimento de água e de saneamento básico.
Um cidadão de uma terra do interior que recordamos, com saudade, como um exemplo de cidadania, de trabalho e de compromisso com futuro.
A sua pessoa saiu do radar dos nossos sentidos numa manhã deste mês de Agosto de 2017. Faria dentro de dias 84 anos.
- Teixeira Coelho