Neste primeiro contributo e em tempo de eleições presidenciais em França, não podemos deixar de pensar as implicações da radicalização política em extremismos e discursos xenófobos. Os princípios de solidariedade que estão na base do próprio processo de construção da União Europeia parecem ocultados por dinâmicas de ‘medo’. O medo do ‘outro’, seja este o refugiado, seja o migrante, seja o estrangeiro. E como esta sociedade de ‘medo’ é construída e nos torna vulneráveis a sentimentos que nos são por natureza alheios – esta radicalização de pensamento que despersonaliza este ‘outro’ e o torna um ‘inimigo’. E depois mais um ataque terrorista em França, apenas a alguns dias do ato eleitoral. Mais medo? Mais radicalização do discurso? Pelo contrário, que estes atos sirvam para nos relembrar os valores que acolhemos e a sociedade que queremos, um registo de inclusão e solidário e não de exclusão e xenófobo. E se não somos capazes de transformar o mundo, que sejamos capazes de transformar o discurso que nos é próprio e que nos está próximo: queremos uma União Europeia onde os valores de cidadania e participação, liberdade e respeito por direitos fundamentais, que sempre foram pilares do processo europeu, sejam os guias que ainda vão conduzindo a União Europeia nestas águas turbulentas e tempos de grandes divisões.
Uma iniciativa muito meritória e que aconselho a que deem atenção, foi lançada recentemente com o envolvimento de um grupo de estudantes do Mestrado em Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O projeto REspeech [https://www.respeechproject.com/] nasceu, como os estudantes o descrevem, da vontade de fazer face à proliferação do discurso de ódio nos meios digitais, prevenindo assim a radicalização. Através do uso dos media sociais, como o facebook ou o twitter, e de uma página própria, o projeto vai expondo narrativas e discursos de exclusão e promovendo uma lógica mais inclusiva e de diálogo, de modo a oferecer uma nova plataforma de transformação da linguagem e de desconstrução de estereótipos que têm vindo a contribuir para um aumento do ódio e de políticas xenófobas na União Europeia (e além desta). A seguir.
