Conferências de Arouca


Uma tarde no mosteiro

Em louvor do mexerico. O poder da(s) narrativa(s) no património histórico. | Inês Fialho Brandão

Esta comunicação pretende ser uma abordagem a diferentes estilos de comunicação dentro do património histórico, e à importância que estes estilos detêm na captação de novos públicos e na ocupação de um espaço privilegiado nos seus imaginários.

Nestes espaços, o desafio estratégico reside por vezes na escolha entre as mensagens identitárias e os percursos comunicacionais a promover. Por um lado, têm figuras e/ou acontecimentos fundacionais; por outro, um edifício, ou complexo arquitectónico, que pode ou não deter um significado patrimonial autónomo; e, finalmente, um acervo, que pode ou não refletir, na integra ou parcialmente, o percurso do edifício, e nem sequer dos indivíduos a este associado.

Esta ‘confusão de trilhos’ não precisa de ser vista como uma dificuldade a esconder ou ignorar. Pelo contrário, constitui uma mais-valia na construção de discursos polifacetados, que humanizam o espaço e conteúdos do património histórico, e as figuras com ela associadas. Por outras palavras, é na incoerência, na complicação, no elemento inusitado, inesperado, e aparentemente irrelevante, que podem residir os pontos de entrada mais compensadores para a captação e fidelização dos públicos deste tipo de património.
                                                                                                                                                                                          Inês Fialho Brandão

Fotos da Conferência | Vídeo da Conferência

Inês Fialho Brandão, museóloga, tem interesse especial nos temas de museus e ética; museus e educação; e a interacção entre museus, património natural e turismo. É coordenadora do Farol Museu de Santa Marta, em Cascais; correspondente na Península Ibérica para o Holocaust Art Research Project; e gere as redes sociais do ICOM Portugal. Foi membro da direção da Acesso Cultura.

Colabora, ou colaborou, em projetos de investigação, comissariado e/ou educativos, com, entre outros:  Museus Municipais de Cascais, Museu Nacional de Arte Antiga, Casa-Museu Anastácio Gonçalves, Qatar Museums Authority, Brooklyn Museum of Art, Metropolitan Museum of Art.

É autora de várias publicações sobre colecionismo e história de arte, e contribui regularmente para publicações da especialidade. O seu artigo mais recente, ‘Os Museus seduzem-nos’, foi publicado na RP, Revista Patrimonio, editada pela DGPC em Fevereiro de 2016.

Licenciada em História e História da Arte (University of Edinburgh, 2000) e Mestre em Museum Studies e Near Eastern Studies (New York University, 2002). Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Presentemente, prepara o doutoramento na National University of Ireland, financiado pela Fundação Ciência e Tecnologia entre 2012 e 2015.

Um novo olhar sobre as pinturas do Cadeiral | Carlos Teixeira de Brito

O cadeiral do Mosteiro de Arouca é o segundo maior cadeiral português, depois do de Lorvão, com 104 assentos distribuídos em duas séries.

É um exemplar único na história da talha porque, pela primeira vez, surge a tendência típica do século XVIII de procurar efeitos de verticalismo no espaldar, deixando de existir divisões horizontais em duas filas de ornatos. A talha foi executada entre 1724 e 1725 por dois reputados entalhadores portuenses, em parceria: António Gomes e Filipe da Silva, sendo o douramento da autoria de João Nunes de Abreu e Manuel Cerqueira Gomes, de Lisboa. Poucos anos depois, o cadeiral de Arouca viria a servir de modelo àquele que os monges bernardos mandaram fazer para a sua igreja de S. João de Tarouca, no termo de Lamego. O trabalho da talha revela uma perfeita combinação de pequenas folhas agitadas, abraçando meninos e pássaros, uma decoração típica do barroco nacional.

Por trás das cadeiras superiores, levantam-se espaldares, invulgarmente altos e ricamente entalhados, repartidos por pilastras, que abrigam 30 pinturas em tela, de autor desconhecido. A sua disposição parece ter sido escolhida, aparentemente, com uma certa arbitrariedade…
                                                                                                                                                                                                                                                              Carlos Teixeira de Brito